O cenário econômico que aguarda o próximo presidente

O economista e fundador do Atlântico, Paulo Rabello de Castro, e a equipe da RC Consultores divulgaram o “Cenário Econômico 2022-2023” no início de maio. Em sua análise, os consultores destacam o quanto o momento é desafiador para fazer previsões. Também deixam claro que o cenário econômico independe de quem venha a ser o próximo presidente.

A seguir, os principais destaques do cenário econômico traçado.

Fim da pandemia em perspectiva

A expectativa é o fim das paralisações radicais das atividades econômicas. O sucesso da vacinação está permitindo a retomada das atividades sociais e econômicas. Entretanto, o recente lockdown em Xangai reforça o estado de atenção permanente das autoridades sanitárias. O resultado pode ser uma nova retração da oferta de insumos críticos, como os semicondutores, pressionando inflação e juros em todo o mundo nos próximos meses.

As paralisações das atividades devem cessar em 2023. Com a reabertura total da economia, o setor de serviços será impulsionado, com destaque para turismo, alojamento, alimentação e transporte aéreo.

Inflação generalizada

A alta dos preços é persistente e atinge as commodities agrícolas, minerais e energéticas, pressionando os custos de produção e comercialização de diversos itens. Os ativos seguem se valorizando, não importando sua classe ou característica.

É uma realidade que praticamente todos os países do mundo estão enfrentando. A pandemia atuou como estopim para a explosão de preços, mas o principal fator gerador foi a explosão de liquidez injetada pelos principais bancos centrais do mundo, com destaque para o EUA, a Europa e o Japão.

A justificativa para este movimento sem precedentes, em termos da magnitude e da velocidade de implementação, foi a tentativa desesperada de salvar os negócios e os empregos na economia mundial no advento da Grande Recessão de 2008-09. A liquidez extrema foi um anabolizante para os índices acionários, que seguiram rompendo máximas históricas, mesmo em meio a todas as imprevisibilidades econômicas.

Não se trata de um efeito transitório, demandando um ajuste dos mercados através da alta de juros. Os reflexos esperados serão a correção dos mercados acionários, com reflexo direto nas demais classes de ativos, com destaque para o setor imobiliário. A propensão ao consumo e ao investimento será deprimida, reduzindo o ritmo de crescimento da economia mundial.

Desglobalização

O conflito bélico entre Rússia e Ucrânia dividiu o mundo em dois grandes blocos: países do bloco da OTAN e países orientais e países emergentes, que discordam das sanções impostas aos russos.

Como previsto pela RC Consultores ainda em 2008, haverá uma desglobalização. A China anulou a Pax Americana e se firmou como protagonista no cenário mundial, não somente no campo econômico, mas também no político e social. A nova configuração mundial terá países líderes (EUA, China e países europeus membros da OTAN) e países seguidores (Américas, África, Oceania e Sul da Ásia). Haverá também países que jogarão como “solteirões”, sem compromissos formais com os blocos. Entre eles estão o Brasil, Índia, Rússia e Turquia.

O embate entre os líderes dos blocos levará a uma profunda revisão da dependência de suprimentos e a novos acordos comerciais. A tendência é a “domesticação” de muitos processos produtivos espalhados pelo mundo, com impacto inflacionário.

O novo presidente do Brasil deverá desenvolver uma nova lógica econômica, adaptando o país a esta nova realidade da política mundial. O país é um importante player na oferta mundial de commodities, essenciais para o crescimento chinês, não podendo tomar decisões inclinadas para um determinado lado nas disputas comerciais. Por outro lado, deverá aproveitar as oportunidades de novas parcerias comerciais com os EUA e União Europeia.

Brasil segue em marcha lenta

O Brasil segue como espelho da volatilidade externa. Graças à ineficiência geral das políticas públicas, o ajuste da indústria e setores correlatos é cada vez mais doloroso.

Após a quebra estrutural do ritmo de crescimento da economia entre 2014 e 2016, a economia brasileira passou para um ritmo bem mais baixo, quase nulo. Houve um ímpeto artificial de crescimento em 2020, mas foi alimentado pelos auxílios governamentais. Com o fim dos auxílios, a estagnação voltou a ditar o ritmo da economia brasileira.

A extração econômica – aumento da carga tributária para sustentar o explosivo aumento das despesas públicas – segue crescente. Como resultado da transferência de recursos bons do setor produtivo para o sustento de uma máquina estéril, temos a queda da produtividade geral.

A capacidade de produzir está debilitada não apenas pelo custo Brasil, mas pelo aumento do preço dos insumos. Até mesmo a agricultura será afetada, pois a alta dos fertilizantes, diesel e maquinários irá comprimir a margem de lucro.

O comércio varejista e o setor de serviços não conseguem resultados mais robustos, por conta da queda da capacidade de consumir das famílias. O número de pessoas ocupadas voltou ao patamar pré-pandemia, entretanto a média dos salários reais não se recuperou. A principal causa é a forte inflação ao consumidor, que deteriora o poder de compra.

O governo brasileiro terá pouca capacidade de influenciar o ritmo de crescimento da economia em 2023, graças ao orçamento público bastante engessado.

Considerando todos estes fatores, a RC Consultores projeta um avanço de 0,9% do PIB em 2022 e 1,6% em 2023. Também considera que este cenário não depende do próximo presidente. A não ser que ocorra uma mudança profunda e surpreendente no curso da política, de forma que se desenhe um novo jogo eleitoral.

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