Inflação na “mão de Deus”

A inflação medida pelo IPCA-15 ficou em 0,59% no mês de maio, após ter registrado taxa de 1,73% em abril, e surpreendeu negativamente o mercado. O IPCA-15 é considerado uma prévia da inflação oficial do país. Apesar da desaceleração, foi o maior índice para maio desde 2016.

Em 12 meses, o IPCA-15 passou a acumular alta de 12,20%, contra os 12,03% registrados nos 12 meses anteriores. São nove meses seguidos com inflação anual acima de dois dígitos. A taxa é a maior inflação anual no país desde novembro de 2003, quando ficou em 12,69%.

Esta inflação tem obrigado os consumidores a deixarem de comprar até produtos mais básicos, como carne de boi, leite longa vida e óleo. Muito difusa, ela atinge fortemente os produtos básicos, dificultando a substituição.

Como resultado, o comportamento do consumidor está sendo alterado. Enquanto as famílias mais pobres consomem menos itens, aquelas com mais recursos passaram a estocar.

 

A versão técnica

No início de maio, o Copom (Comitê de Política Monetária) já havia decidido aumentar a taxa Selic em 1 ponto percentual, passando a 12,75% a.a. O Comitê avaliou que as pressões inflacionárias globais se intensificaram. De um lado, há uma demanda por bens persistentemente elevada, como ocorre na economia norte-americana. De outro, há choques de oferta ligados à guerra na Ucrânia e à política chinesa de combate à Covid-19. O resultado deve ser o retardo da normalização do suprimento de insumos industriais, assim como a reorganização das cadeias produtivas, gerando pressões inflacionárias.

O Copom também afirmou que a incerteza em relação ao futuro do arcabouço fiscal atual resulta na elevação dos prêmios de risco e aumenta o risco de desancoragem das expectativas de inflação. Desta forma, considerou que “o nível de aperto monetário apropriado é também condicional ao arcabouço fiscal vigente. O esmorecimento no empenho por reformas estruturais, bem como alterações de caráter permanente no processo de ajuste das contas públicas, pode elevar a taxa de juros neutra da economia.”

Considerando os cenários avaliados, o balanço de riscos e o amplo conjunto de informações disponíveis, o Copom decidiu aumentar o aperto monetário, que será mantido pelo tempo suficiente para promover a desinflação e a ancoragem das expectativas em torno das metas. O custo da política monetária restritiva é a desaceleração ainda maior da economia, que será sentida pelos próximos trimestres, como afirmou o próprio Copom.

 

A versão da montanha mágica

O ministro da Economia, Paulo Guedes, esteve esta semana em Davos – cenário do romance “A Montanha Mágica”, de Thomas Mann – representando o Brasil no encontro anual do Fórum Econômico Mundial.

Fomos os primeiros a combater a inflação, zeramos o déficit e subimos os juros”, declarou o Guedes aos jornalistas, demonstrando grande otimismo. Para Guedes, a casa já estaria arrumada em termos fiscais e monetários para possibilitar crescimento, apesar das previsões de recessão para muitos países.

A avaliação do ministro ignora o fato de que a melhora das contas públicas foi claramente facilitada pela inflação. Ignora também que a inflação brasileira está entre as mais altas do mundo: a quarta maior entre as nações do G20 e a sexta pior do continente americano, pelos levantamentos da plataforma Trading Economics. Guedes parecia estar falando de outro país.

Enquanto isto, o presidente Jair Bolsonaro discursou em uma convenção de pastores da Assembleia de Deus. Sem pudores, admitiu que não tem um plano para conter o avanço da inflação galopante e resolver outros problemas econômicos que assolam o Brasil. Para Bolsonaro, a solução “É a resiliência, ter fé, ter coragem, acreditar.”

 

Brasil segue patinando

Inflação, estagnação econômica, inflação e empobrecimento da população são as consequências nefastas da procrastinação da realização das reformas necessárias ao país. São consequência também da eleição de governantes despreparados, sem projetos sólidos de governo.

O desempenho medíocre da economia brasileira não apenas no período recente, mas nas últimas décadas, não condiz com o enorme potencial do Brasil.

O ATLÂNTICO defende a realização da Revisão Constitucional, base para a realização da reforma do Estado – Reforma Administrativa e Reforma Tributária, que é indispensável para a retomada do crescimento. Também será base para as modificações no sistema eleitoral, aumentando a representatividade.

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