O retrocesso no direito à educação

Um estudo realizado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) mostrou que a educação brasileira retrocedeu 15 anos, especialmente entre os segmentos mais pobres. A taxa de evasão escolar das crianças entre 5 e 9 anos saltou de 1,4% em 2019 para 5,5% em 2020. Foi um impacto relevante neste grupo educacional, que teve progresso significativo nos 40 anos anteriores.

O retorno das aulas presenciais no segundo semestre não trouxe perspectivas de melhora, porque, enquanto o fechamento prolongado das escolas diminuiu os vínculos, o empobrecimento da população fez os alunos procurarem alguma atividade econômica para auxiliar as suas famílias.

O desafio da volta às aulas

Os investimentos em educação no segmento de menor idade são os mais transformadores e as quedas observadas nos índices podem deixar sequelas de longo prazo. Se o processo de alfabetização não estiver bem consolidado, continuará havendo abandono escolar nos próximos anos.

Trazer os alunos de volta, recuperar a defasagem e mantê-los na escola é o grande desafio no momento. Em entrevista para a Folha de São Paulo, o economista Ricardo Paes de Barros afirmou que a perda de aprendizado pode ser compensada nos próximos anos, mas ainda não existe política pública neste sentido.

Sem ações públicas para recuperar este atraso, as crianças e adolescentes arcarão com os maiores custos da pandemia, pois terão salários mais baixos. O economista estima o impacto da redução dos rendimentos futuros desta geração em 9% do PIB.

O retrocesso na educação também reflete o descaso e omissão do governo atual, mais preocupado em rever questões do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Segundo relatório do movimento Todos pela Educação, houve redução de 63% nos gastos em infraestrutura das escolas da Educação Básica, deixando esta categoria quase exclusivamente dependente de recursos de emendas, que precisam da pactuação de Estados e Municípios com parlamentares.

Para José Velloso, presidente da Abimaq (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos) e conselheiro do Atlântico – Instituto de Ação Cidadã, “É um impacto incalculável. Já temos uma deficiência educacional enorme, mas com toda a evasão escolar e a dificuldade de acesso à internet, por parte dos alunos mais jovens, esse déficit irá aumentar sobremaneira. Já sofremos um apagão de mão de obra qualificada na indústria, e com toda essa defasagem de aprendizado dos jovens, essa situação irá se agravar ainda mais. É preciso um esforço de toda a sociedade para tentarmos corrigir o rumo e recuperarmos todo o atraso, com o risco de comprometermos o futuro e os avanços tecnológicos necessários, caso não tenhamos sucesso nessa jornada”.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *