A insanidade econômica brasileira

A insanidade econômica brasileira

Publicado originalmente no LinkedIn, em 12/05/2023.

Gustavo de Oliveira

É atribuída ao famoso físico Albert Einstein uma frase que considero um dos mais espetaculares resumos do efeito do repetitivo comportamento humano: “Insanidade é continuar fazendo sempre a mesma coisa e esperar resultados diferentes”. Einstein, sempre acusado de ser uma espécie de gênio louco, ao se defender de tais críticas criou um aforismo que poderia facilmente ser considerado o melhor argumento sobre a necessidade de inovarmos, especialmente em tempos difíceis, como o momento econômico atual.

Embora o debate político insista em tentar minimizar o tamanho da crise econômica que estamos vivendo, a percepção geral da sociedade é de que ela é de extrema gravidade e está afetando de maneira aguda a vida dos brasileiros em geral. A falta de recursos financeiros disponíveis que vem sendo experimentada, recentemente, por empresas e famílias no nosso país tem feito vítimas a cada dia, e não podemos mais acreditar que reencontraremos a prosperidade econômica como Nação usando a mesma lógica econômica que temos utilizado nas últimas décadas, pois foi esta mesma lógica que nos levou ao estado atual de crise.

Combinações desastrosas como a alta carga tributária, o aumento do gasto público e a falta de recursos para inovação e desenvolvimento de novas tecnologias fizeram do Brasil um gigante econômico ineficiente: de maneira geral somos uma potência econômica mundial, mas olhando cada setor da nossa economia não somos conhecidos pela alta performance como um todo. E o brasileiro é quem paga o preço deste gigantismo ineficiente.

Alguns dados divulgados recentemente comprovam os devastadores efeitos desta combinação de fatores que vêm, há décadas, destruindo valor em nossa economia. Vou me ater a dois deles. Temos uma taxa de desemprego relativamente baixa em nosso país, que segundo o IBGE (PNADC) era de 8,8% em março de 2023 e abaixo de 4% em Mato Grosso, o que faz com que estejamos quase na situação que os economistas chamam de pleno emprego, ou seja, supostamente há emprego para todos. Contudo, o mapa da inadimplência do Serasa mostra que 43% dos brasileiros estão com alguma conta em atraso, e em Mato Grosso 50,22% da população adulta está nesta condição.

 

O MAPA DA INADIMPLÊNCIA
O mapa da inadimplência. Fonte: SERASA

Como podemos interpretar esses dois dados importantes?

Há emprego sim, mas este não consegue prover renda suficiente para sustentar o padrão de vida das famílias em nosso estado. E não é preciso ser formado em economia para perceber que nos últimos anos a renda da maior parte das pessoas parece ter perdido seu poder de compra, pois os rendimentos já não conseguem fazer frente às despesas básicas como supermercado, conta de luz, gastos com transporte e outros. As sobras para investimentos, como trocar ou adquirir um veículo ou imóvel, são cada vez mais raras. Ao compararmos o valor médio dos salários com os preços destes bens, veremos que precisamos trabalhar cada vez mais para conseguir pagar estes investimentos. Trocando em miúdos, os empregos não estão pagando tão bem quanto em anos anteriores.

Concordando com o efeito, é necessário entender suas causas. O Brasil é um país que está empobrecendo porque a produtividade, a eficiência e a inovação (com algumas exceções) não estão na agenda das políticas públicas. Nossas exportações batem recordes, mas nossa pauta de exportações é cada vez mais dependente de commodities agrícolas e minerais. O setor público arrecada cada vez mais, aumentando a carga tributária ano a ano, mas a qualidade e a disponibilidade dos serviços públicos não crescem na mesma proporção, fazendo com que o recurso fique pelo caminho. Por fim, temos assistido a uma verdadeira epidemia de empresas brasileiras em crise, com o aumento de pedidos de recuperação judicial como medida de proteção e grandes empresas em crise. 

Então, como virar o jogo em um país onde a economia vai mal, as empresas estão com dificuldades e o estado é ineficiente?

No meu ponto de vista, conseguiremos apenas com novas práticas e investimentos robustos em inovação, tecnologia e produtividade. Ao contrário do que os imediatistas de plantão defendem, a saída definitiva do país deste ciclo vicioso não está em um projeto de lei mágico para controlar as contas públicas ou na redução imediata da taxa de juros. Estas medidas, necessárias, se encarregarão de retirar o país do momento ruim, mas a cura definitiva para nossos males está em criarmos um novo modelo de desenvolvimento, que priorize a produtividade, a eficiência, o desenvolvimento de novas tecnologias e uma clara visão de futuro em que teremos empresas mais saudáveis, pagando melhores salários e distribuindo mais riqueza em nossa sociedade.

Com um país mais produtivo, a prosperidade será maior, a desigualdade reduzirá e teremos, enfim, um Brasil economicamente forte e socialmente desenvolvido.

Se nos negarmos a criar e implementar este país e continuarmos fazendo as coisas do mesmo jeito, seremos julgados insanos por todos aqueles que concordam com Albert Einstein. E, ao invés de uma Nação, o mundo nos olhará como um manicômio.

 

Gustavo de Oliveira

Gustavo de Oliveira é um entusiasta de temas relacionados à economia, negócios e inovação. É comentarista de cenários econômicos na rádio CBN Cuiabá (afiliada à CBN Nacional) e escreve artigos de opinião para sites e jornais de Mato Grosso. Também faz palestras para compartilhar conhecimentos e trocar experiências sobre tendências econômicas e no futuro do trabalho. Tem mais de 25 anos de experiência como empresário no setor de mineração em Mato Grosso e na liderança em instituições públicas e do terceiro setor. Faz parte da diretoria da CNI – Confederação Nacional da Indústria e é conselheiro em duas empresas privadas. 

 

 

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O artigo acima não representa, necessariamente, a opinião do Atlântico.