Indústria de alta tecnologia perde espaço

A participação de bens industriais de média e alta tecnologia nas exportações caiu para 14,2% em 2021, o menor patamar desde 2001, quando o percentual foi de 33%, segundo levantamentos da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex). Entre as causas da enorme redução está a dificuldade de concorrer no mercado internacional.

 

Considerando apenas a categoria de alta intensidade tecnológica, houve uma queda de 31,8% nas vendas externas entre 2019 e 2021. A categoria engloba os segmentos de aeronáutica e aeroespacial, máquinas e equipamentos especiais (como robóticos) e instrumentos científicos.

 

De 2011 a 2020, 9.579 empresas do segmento industrial (3,1% do total) fecharam as portas. Cerca de 1 milhão de empregos foram eliminados (11,6% do total), sendo 5.747 vagas nas indústrias extrativas e 998.200 nas indústrias de transformação, evidenciando a desindustrialização do país.

 

Custo Brasil

A indústria enfrenta a perda de produtividade provocada por fatores sistêmicos, como o sistema tributário complexo, a infraestrutura deficiente, o baixo nível educacional e as dificuldades em obter financiamento de investimentos com juros baixos.

 

Estes entraves comprometem a indústria, reduzindo a dinâmica econômica e o crescimento do país, que fica pouco relevante no comércio industrial global e mais vulnerável aos choques externos e setoriais, bem como às medidas arbitrárias de outros países.

 

De fato existe uma importante relação entre a exportação de bens manufaturados de média-alta e alta intensidade tecnológica e o processo de desenvolvimento de um país” afirma José Velloso, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (ABIMAQ). “Este modelo de negócios exige mão de obra altamente qualificada, e, por isso, propicia importante agregação de renda no país. Maiores rendas geram maiores consumos, maiores arrecadações e assim sucessivamente, sem contar a atração de divisas”.

 

Velloso afirma que, a cada ano, a exportação de bens básicos ganha importância na balança comercial, em detrimentos aos produtos transformados. “Desde 2016, (os bens básicos) respondem pela maior parte das exportações do Brasil, atingindo 49,5% do total em 2021. Do outro lado, a participação dos bens de alta e média-alta intensidade tecnológica despencaram para 14,2%. É um quadro bastante preocupante para o país, que só será revertido com a continuidade da agenda de reformas estruturantes. É isso que garantirá ganho de competitividade ao produtor local e poder de atração de novas empresas”, declara.

 

Ainda segundo o presidente da ABIMAQ, o setor produtivo industrial tem atuado continuamente em ações que tragam ganho de competitividade, ou que, ao menos, devolvam a competitividade subtraída pelos inúmeros fatores que compõem o Custo Brasil.

 

Este ano, em especial, aproveitando o calendário eleitoral, colocamos todas as nossas sugestões em um documento que denominamos de “Reconstruindo a Indústria”. Pretendemos sensibilizar os candidatos à presidência da república para a necessidade de ações que tragam de volta a competitividade do setor produtivo nacional”, explica José Velloso. “Entre as sugestões elencadas está a melhoria do ambiente de negócios baseada na reforma tributária indireta, onde defendemos o IVA capaz de simplificar, reduzir custos administrativos, eliminar resíduos tributários, desonerando investimentos e exportações”. As sugestões apresentadas também preveem a continuidade da reforma trabalhista, para modernizar ainda mais a legislação.

 

Educar e modernizar

Segundo a CNI, é fundamental ampliar a participação de “setores mais intensivos” em tecnologia, para reduzir a vulnerabilidade da economia brasileira. De acordo com o presente da ABIMAQ, este objetivo pode ser alcançado com políticas de financiamento de longo prazo para investimentos produtivos, bem como a modernização institucional do sistema educacional, com foco em qualidade da mão de obra. Também contribuem o aprimoramento dos instrumentos de apoio a inovação e políticas de inserção no mercado internacional, entre outras medidas.

 

Nós acreditamos que ações bem estruturadas de desburocratização, focados num ambiente de negócios neutro e de combate aos fatores de incertezas econômicas, abrirão espaço para o desenvolvimento do setor industrial”, finaliza José Velloso.

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