Paulo Rabello defende o papel do BNDES

A nomeação de Aloizio Mercadante para a presidência do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) reacendeu as discussões sobre o papel do banco. O ex-presidente do BNDES e do IBGE e fundador do ATLÂNTICO, Paulo Rabello de Castro, tem sido frequentemente convidado a opinar sobre a atuação do banco e as expectativas em relação às suas políticas futuras.

No programa Café do MyNews, com Denise Campos de Toledo, o economista afirmou: “O BNDES foi maculado por uma presunção de estar, como instituição, envolvido em comissões ou vantagens pagas a pessoas envolvidas em obras realizadas no exterior (com financiamento do banco), em particular, em vários países vinculados ao Foro de São Paulo, de vertente socialista. É uma mácula que apuramos ser totalmente injusta. Eu queria deixar claro que é uma acusação sem procedência, porque ela não decorre da estrutura de financiamento que o BNDES utiliza”.

Paulo Rabello acrescentou que “o BNDES apenas financia os suprimentos, equipamentos, máquinas e serviços de engenharia de projetos elaborados no Brasil e depois exportados. Portanto, é um financiamento de exportações como qualquer outro. O fato de o devedor ser uma república de inclinação socialista, não significa dizer que não irá pagar as contas no final do dia. Há atrasos em alguns pagamentos, mas tenho certeza de que toda dívida será saldada.”

Paulo Rabello de Castro participa do Programa Café do MyNews, com Denise Campos de Toledo.

 

Cabe ressaltar que os financiamentos para exportações de projetos para países de vertente ditatorial ou socialista não implicam em maior risco ou prejuízo para o BNDES, como explicou Paulo Rabello no programa Jornal da Manhã, de 19 de dezembro. O banco se protege através de resseguros junto à agência de Resseguros do Tesouro Nacional.

Quando assumiu a presidência do BNDES (junho de 2017), Paulo Rabello realizou uma apuração dos empréstimos concedidos, sem viés ideológico. Verificou que as operações foram realizadas com correção, como explica o Livro Verde do BNDES*. Na realidade, o banco financiou projetos que deram empregos a brasileiros. Porém, este mal-entendido gerou uma perseguição ao trabalho da entidade, cuja história soma mais de setenta anos de colaboração com o desenvolvimento do país, explica o fundador do ATLÂNTICO.

Outro equívoco em relação ao banco, é de que ele desestimula a busca por financiamento no setor bancário privado, especialmente para obras de grande vulto. “Esta alegação levou a uma redução dramática na capacidade de atuação do BNDES. Entretanto, historicamente o mercado financeiro brasileiro não tem apresentado volume suficiente para financiar obras como a construção de uma grande usina ou barragem, que demandam empréstimos com prazo de 20 a 30 anos. Esta é a atividade tradicional do banco, na qual ele supre recursos em quantidade e qualidade suficientes.”

Na opinião de Paulo Rabello, a estigmatização do trabalho do BNDES só atrapalhou o esforço que deveria estar sendo feito para aumentar a capacidade de investimento total da economia, através da colaboração entre as fontes de financiamento privadas e as fontes de financiamento públicas.

Vitalidade financeira

O BNDES nunca precisou de aportes extraordinários para fechar déficits ou prejuízos. É um fato muito relevante, pois outras instituições financeiras públicas já precisaram de socorro. Ao contrário, o banco demonstrou vitalidade financeira ao longo dos últimos anos.

Em decorrência das críticas ao aporte de R$ 440 bilhões realizado pelo Tesouro Nacional, visando alavancar o fluxo de investimentos do país após a crise financeira de 2009, o banco precisou antecipar a devolução dos recursos juntamente com os juros.

Este aporte permitiu ao banco financiar mais de 1000 projetos, a maioria deles altamente rentável. Apesar de os recursos estarem comprometidos no longo prazo, teve que levantar os montantes requeridos para realizar o pagamento requerido pelo Tesouro – e conseguiu! Tal fato apenas demonstra que o BNDES dispunha de reservas e investimentos rentáveis, ressaltou o economista.

Por outro lado, “o BNDES tirou recursos do fluxo de investimentos do país para financiar gastos correntes, ou seja, para financiar o dia a dia do governo que gasta mais do que arrecada. Aí, sim, tivemos uma operação altamente prejudicial”, afirmou Paulo Rabello.

Aloizio Mercadante deverá enfrentar o desafio de encontrar fontes de recursos alternativas ao Tesouro Nacional. Estas fontes existem, tanto internas quanto externas, e o banco possui uma boa classificação de risco. Mas, diante do processo de descapitalização, será necessário levantar os recursos para a ampliação do fluxo de financiamento de novos projetos”, concluiu.

* O Livro Verde do BNDES foi publicado em 2017. Ele analisa de forma aprofundada estas “operações polêmicas” e as operações do banco de forma geral. Clique aqui, para fazer o download gratuito.

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