Guerra na Ucrânia causará novo choque de custos

As sanções impostas à Rússia em razão da invasão da Ucrânia afetaram a cadeia de suprimentos, determinando um novo choque de custos para a economia brasileira. As dificuldades de importação dos fertilizantes, a alta dos preços das commodities e do petróleo terão forte impacto sobre os preços. Como o choque ocorre em um momento de inflação em alta – no Brasil e em todo o mundo, os desafios para controlar a alta dos preços serão muito maiores.

Os efeitos do conflito já são sentidos nas projeções para a inflação em 2022. Há um mês, a projeção para o IPCA era 5,56%, mas esta semana atingiu 6,45%. O próprio Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central projetou a inflação de 2022 em 7,1% na reunião da semana passada. Com isto, elevou a taxa Selic em um ponto percentual, para 11,75% ao ano. Por sua vez, o mercado está projetando a taxa Selic em 13% no final do ano.

Petróleo e fertilizantes

A guerra ocorre em um momento em que as cadeias mundiais de suprimento não se recuperaram totalmente da pandemia. As sanções impostas à Rússia estão agravando ainda mais as dificuldades para a compra por parte de países e empresas, alavancando preços.

Os preços de produtos-chave da economia russa dispararam. O barril de petróleo Brent teve um pico de preços no começo de março, atingindo US$ 127,98. Recuou e voltou a subir, atingindo esta semana US$ 121,77 – uma alta de 84% em um ano.

Os fertilizantes também sofreram uma alta. Além do fornecimento russo ter sido interrompido, Belarus decidiu suspender as exportações.

Alta dos preços dos alimentos

Outra commodity que sofreu forte alta é o trigo. Rússia e Ucrânia juntas respondem por 28,9% das exportações de trigo. Além do bloqueio do acesso ao trigo russo, o fornecimento da Ucrânia foi interrompido em razão do fechamento dos seus portos. Não é possível realizar um ajuste rápido a esta interrupção do suprimento do trigo, por isto os preços aumentaram no mercado internacional.

Os preços dos alimentos devem subir muito, pois o conflito está afetando várias cadeias de produção.A primeira é a do trigo, obviamente. A alta da commodity vai repercutir no preço de pães, massas etc. A cadeia do milho também será afetada, pois a Rússia é também uma produtora importante desta commodity. Além dos alimentos produzidos a partir do milho, as cadeias do frango e dos suínos terão forte aumento dos custos.

A alta dos fertilizantes e dos combustíveis agrava este quadro e impactam toda a produção de alimentos. Mesmo com a alta das commodities, haverá dificuldades para os produtores agrícolas, pois os custos de produção estão altos.

Nem tudo é ruim

O dólar, que chegou a ser negociado a R$ 5,80 em 2021, foi cotado a menos de R$ 5 esta semana. Em um cenário de tensões políticas internacionais e alta de juros nos EUA, a aversão ao risco deveria gerar saídas de capitais e depreciação do real, mas não foi isto o que aconteceu.

Uma combinação de fatores está favorecendo este movimento. Em primeiro lugar, o fato do Brasil ser um importante exportador de commodities, cujas cotações deverão se manter elevadas durante o conflito. Em segundo lugar, os juros altos e com perspectiva de elevação.Adicionalmente, a bolsa brasileira está barata. Com isto, os investidores externos estão injetando recursos no país, apreciando o real.

Mesmo que o movimento não se sustente no longo prazo, diante das eleições de outubro e um aumento mais forte da taxa de juros americana, ainda assim o dólar mais fraco pode amenizar os efeitos do choque de custos sobre a inflação no curto prazo.

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