A economia mundial enfrenta a inflação mais alta dos últimos quarenta anos e não há sinais de moderação. Por esta razão, os principais bancos centrais estão endurecendo a política monetária com uma velocidade maior do que o esperado, afetando o ritmo de crescimento global. É um cenário desafiador para as economias emergentes, pois as suas moedas e contas externas podem sofrer pressões.
Segundo Armando Castelar Pinheiro e Silvia Matos (IBRE/FGV), “a maioria dos preços segue em alta e a inflação não irá retornar às metas sem um aperto mais firme da política monetária, processo que em muitos países ainda está em seu início e distante de chegar a um ponto de conforto quanto à dinâmica futura dos preços.”
A inflação apresenta dinâmicas diferentes em cada país. Alguns países enfrentam a inflação de serviços, como os EUA. O custo da desinflação será elevado neste grupo, pois será necessária uma expressiva desaceleração econômica e aumento do desemprego.
A inflação nos EUA, por exemplo, está mostrando persistência. Houve uma surpresa altista em setembro, em que a variação anual do núcleo da inflação atingiu 6,3%, próxima do pico de abril (6,5%).
Nos países europeus, a inflação é agravada pelo choque no preço da energia decorrente da guerra na Ucrânia – o preço do gás aumentou em oito vezes desde o início do conflito. Eles também precisarão elevar a taxa de juros – atualmente muito negativa em termos reais em vários países da região. A elevação dos juros deve se mostrar mais branda do que nos países do primeiro grupo, devido aos efeitos negativos desse choque de oferta sobre a atividade econômica.
Impactos no Brasil
As notícias não são boas para a economia brasileira. Uma recessão mundial deve provocar queda dos preços das commodities. Deve causar também o aumento da aversão ao risco e fortalecimento do dólar, com a consequente depreciação do real. O resultado seria queda da atividade econômica e aumento da inflação.
É um cenário externo bastante difícil, agravado por questões como a disputa de hegemonia entre EUA e China, o aumento dos riscos geopolíticos devido à invasão da Ucrânia e o aumento do protecionismo. Existem muitos riscos para o país associados a este cenário, entretanto eles parecem estar fora do radar dos candidatos à presidência. Preocupados apenas em ganhar as eleições, não trazem para o debate público as possíveis estratégias para os desafios que terão no próximo ano. Mais que isto, não demonstram ter desenvolvido um plano para lidar com estas adversidades.