As mudanças climáticas impulsionam a busca por uma matriz energética baseada em fontes renováveis há, pelo menos, 40 anos. A invasão da Ucrânia incluiu o componente geopolítico nesta migração e acelerou a busca pela independência energética. Especialmente na Europa, as nações querem reduzir os volumes de gás e petróleo vindos da Rússia.
No curto prazo, pode haver um retrocesso e o espectro de fontes de energia aceitas pode aumentar. As novas preocupações com a segurança energética podem intensificar o uso de termelétricas movidas a carvão, além de prolongar o uso das usinas nucleares.
A sombra nuclear
Embora o desastre de Chernobyl (1986) tenha colocado o mundo em alerta, foi só depois do vazamento na usina de Fukushima (2011), que medidas concretas começaram a ser tomadas para reduzir a participação de fontes nucleares na matriz energética. A Alemanha já desativou várias usinas nucleares e pretendia eliminar o uso da energia nuclear em 2022. Esta ação teve um alto custo e previa uma fase de transição para a matriz renovável, na qual utilizaria o gás russo. Para tanto, havia inclusive construído um novo gasoduto, o Nord Stream 2, cujo início da operação foi suspenso.
Para não expandir as usinas termelétricas movidas a carvão neste momento, a Europa precisará usar a energia nuclear, que, apesar de perigosa, é limpa e tem preços estáveis. No médio prazo, estão sendo buscadas alternativas aos combustíveis fósseis, com a expansão da oferta de energias renováveis e o aumento da eficiência energética.
Hidrogênio verde
Correndo por fora, uma aposta para o futuro são os carros movidos a hidrogênio verde – obtido através da eletrólise da água. A Europa já tem um pacote de investimentos para este combustível, dentro do plano de recuperação pós-covid.
O hidrogênio líquido possui diferentes “cores”, dependendo da fonte energética usada na sua produção. O hidrogênio verde é o hidrogênio produzido a partir da energia elétrica renovável.
Oportunidades para o Brasil
O Brasil, por sua vez, deve expandir a utilização da energia solar e energia eólica, pois tem um potencial enorme a ser explorado e pode ser pioneiro na descarbonização da matriz elétrica. Na opinião de Mauricio Tomalsquim, professor da Coppe-UFRJ, isto pode inclusive gerar um soft power para o país, decorrente da melhoria da sua imagem.
A alta dos preços do petróleo fez as fontes renováveis se tornarem ainda mais interessantes e o Brasil tem a vantagem de implantá-las a um custo menor que no Hemisfério Norte. O país possui um amplo território e uma localização favorável, com alta incidência de raios solares e ventos.
No caso do hidrogênio verde, temos condições de produzi-lo a um custo competitivo e exportar para a Europa e EUA, exatamente pela alta disponibilidade de energia renovável e não-poluente, utilizada no processo que cria um combustível neutro em carbono.
Planejamento é necessário
Como defendido em outros artigos do ATLÂNTICO, a transição para uma nova matriz energética é uma janela de oportunidades para o Brasil, podendo gerar uma nova onda de crescimento econômico para o país. Cabe às nossas lideranças planejar e facilitar os investimentos, para que as oportunidades sejam aproveitadas ao máximo.
Por exemplo, é necessário incentivar as pesquisas e o desenvolvimento de tecnologias. O engenheiro eletricista Manuel Jeremias Leite Caldas explica que o Brasil produz a matéria-prima para a fabricação dos painéis fotovoltaicos – o silício, mas importa os painéis da China. Para a produção dos painéis, o silício precisa ter um altíssimo grau de pureza – 99,999…% – e não temos tecnologia para produzir este insumo. Por isto, apenas montamos os painéis.
“O mercado de painéis fotovoltaicas tem um potencial enorme, de mais de 500 milhões de placas. É errado não investir no desenvolvimento desta tecnologia, que pode promover o desenvolvimento industrial brasileiro”, afirmou Manuel Jeremias.
Também é importante promover a implantação dos painéis fotovoltaicos nas casas e edifícios, abrindo linhas de financiamento com juros baixos para os consumidores finais. Da mesma forma, deve ser estimulado o desenvolvimento da tecnologia de carros elétricos e a disseminação do seu uso, incentivando a substituição da frota e auxiliando na expansão da rede de eletropostos.
Todas estas medidas não prescindem da “lição de casa” que os nossos governantes estão devendo: realizar a reforma do Estado – Reforma Administrativa e Reforma Tributária – de forma que o ambiente de negócios seja propício ao desenvolvimento do setor produtivo, possibilitando a geração de emprego e renda.
Receba a NEWSLETTER do ATLÂNTICO
Pingback: Guerra na Ucrânia causará novo choque de custos