Promover a prosperidade do país, impulsionando o crescimento econômico e a geração de empregos, são as atribuições fundamentais do BNDES, afirmou em entrevista à Jovem Pan o ex-presidente do banco e fundador do ATLÂNTICO, Paulo Rabello de Castro. “Esse é o desafio, porque não crescemos quase nada na última década. Nós devemos crescimento desde o Plano Real. Enquanto a economia mundial cresceu 3,5% ao ano, na média entre países maduros e emergentes, o Brasil cresceu 2%, em média, desde 1994. Portanto, a cada ano, o Brasil atrasa 1,5%. Estamos sempre devendo”, ponderou, durante o programa Jornal da Manhã, de 19/12/22. “Com o coração apertado, posso dizer que a Seleção Brasileira tem reproduzido o Brasil: está sempre devendo”.
Após o fim dos governos do Partido dos Trabalhadores e a chegada do governo Temer, o BNDES não mudou o foco, mas reduziu fortemente a sua atividade. “A modernização do BNDES foi parcialmente implementada”, descreveu Paulo Rabello. “Na minha curta gestão (Jun/2017- Abr/2018), eu promovi esta reestruturação, mas me ressinto de o banco não ter atingido o nível que eu esperava, dando acesso mais favorecido às regiões com atraso de desenvolvimento”. Rabello acrescenta que, “embora o BNDES seja totalmente aberto e transparente, o postulante a uma colaboração financeira tem certa dificuldade para acessar as linhas (de financiamento)”.
Sobre as influências externas no BNDES,o seu ex-presidente destaca que ele não trabalha motivado pelos humores do governo. “O banco obedece à linha do plano de governo e isso precisa ser mais discutido, porque o Brasil não tem um plano econômico há anos”, pontua. “Já notaram que nós estamos sempre falando sobre Banco Central e taxas de juros – as mais elevadas do planeta – e pouco sobre quanto vamos atingir de crescimento econômico em 2023? Este governo, que ainda não entrou, já falou de tudo, menos sobre a pauta de crescimento. 3%? 4%? Ou 2% está bom? O Relatório Focus aposta em menos de 1%, o que é um escândalo! O BNDES é o antônimo dessa mentalidade. Neste sentido, ele está um pouco afastado do verdadeiro jogo do crescimento”.
BNDES sob nova direção
As expectativas sobre a gestão do BNDES a partir de 2023 também foram tema da entrevista na Jovem Pan. Segundo Paulo Rabello, o presidente do banco manda muito menos do que a imprensa e a opinião pública percebem. “O banco obedece às decisões da diretoria, às orientações do seu conselho de administração e, acima destes, ao programa de governo. O banco estabelece políticas de crédito a partir da programação governamental”, detalhou.
“O PT ganhou a eleição e é por isso que eu estou cobrando: onde está a orientação técnica? O presidente eleito colocou a carroça na frente dos bois e saiu nomeando pessoas antes de nomear ideias, projetos e caminhos. A figura de Aloizio Mercadante (cotado para a presidência do banco) não influirá tanto, porque ele não pode influir sobre quem vai receber ou deixar de receber dinheiro”, afirma Paulo Rabello de Castro. “É lamentável que tenham mudado a lei das estatais, novamente, puro casuísmo, um tapa na cara da nossa sensibilidade, passar (a quarentena) de três anos para trinta dias. O mercado está constrangido com a evolução destes acontecimentos”. A quarentena da Lei das Estatais se aplica a pessoas indicadas à presidência ou à direção de empresas públicas que tenham ocupado estrutura decisória de partido ou participado de campanhas eleitorais. Ela foi alterada pela Câmara dos Deputados, por 314 votos a 66.
A entrevista ainda alcançou outro tema polêmico: os empréstimos do BNDES para obras no exterior. Paulo Rabello endossou a atuação do banco, exemplificando que o mesmo é feito pela Espanha, França, Suécia e Estados Unidos. “Um aspecto importantíssimo da atividade de um país é a exportação, compreendendo mercadorias e serviços. Frequentemente o país exportador decide financiar a compra de um guindaste ou um serviço. Há muitas obras do Brasil feitas em Miami, por exemplo”.
Para o ex-presidente do BNDES, o questionamento sobre os empréstimos para obras no exterior surge por um aspecto político: “Quando nós estamos em um campo político, nós gostaríamos que determinados países também fossem avaliados politicamente e esta não é maneira de um banco trabalhar. O banco trabalha olhando o risco financeiro”, explica.
“Costuma haver uma associação entre maior risco e países administrados por vertentes ditatoriais e socialistas, que pagam mal. É por isso que o banco faz o resseguro. E o BNDES fez o resseguro com a agência de resseguros do Tesouro Nacional”, esclareceu Paulo Rabello. “Então, uma segunda confusão é dizer que o BNDES tem tido prejuízo. O BNDES não tem tido prejuízo, porque ele faz o resseguro. O governo federal é quem fica chateado, porque precisa colocar o sinistro no Orçamento quando há um atraso. Mas quero dar uma boa notícia, os países costumam pagar (os seus empréstimos), mesmo quando estão em atraso. Creio que o presidente Lula não cometa a arbitrariedade de perdoar a dívida de trabalhos realizados com o financiamento do BNDES”.
O Livro Verde do BNDES
Em 2017, durante a gestão de Paulo Rabello de Castro, o BNDES publicou o chamado “Livro Verde”, em comemoração aos 65 anos da Instituição. O Livro Verde descreve detalhadamente as fontes de recursos utilizadas pelo banco, os custos de financiamento e as aplicações destes recursos, assim como os resultados obtidos, oferecendo uma visão geral de suas políticas e dos processos adotados. Particularmente, apresenta explicações sobre os financiamentos de projetos exportados para Angola e Cuba, que foram alvo de polêmicas.
Em 340 páginas, a publicação apresenta números e relatórios, respondendo aos crescentes questionamentos sobre a atuação do BNDES e demonstrando o seu papel na promoção da prosperidade do país. O Livro Verde está disponível para download gratuito no site do BNDES. Clique aqui para baixar.
O desconhecimento dos fatos reais, principalmente da Economia Real, leva a avaliarmos de maneira errada a realidade. Lamentável é que estes fatos incluem profissionais de comunicação que falam o que pensam e não o que deveriam saber