A incipiente retomada da economia brasileira está sendo confrontada com a alta do custo de vida. A inflação acumulada nos últimos doze meses atingiu 8%, entretanto os alimentos e serviços acumularam variações acima de 10%. Ao mesmo tempo, os rendimentos permaneceram estagnados – isto, para quem tem emprego. O desemprego atingiu taxas recordes e muitos trabalhadores do setor informal estão inativos.
Estas foram as considerações iniciais de Paulo Rabello, diretor da RC Consultores e fundador do Atlântico – Instituto de Ação Cidadã, no “Economia em Foco”, da Rádio Jovem Pan. O economista debateu com Samuel Pessôa, pesquisador da FGV/IBRE e da Julius Baer Family Office, com Sílvia Matos, coordenadora do boletim Macro IBRE e pesquisadora da FGV/IBRE, e Denise Campos de Toledo, apresentadora do programa.
VEJA O DEBATE “O que esperar da economia pós-pandemia?”
“É uma situação muito difícil, agravada pelo aspecto psicossocial da crise política e moral denunciada diariamente pela mídia, isto é, do cenário de gestão equivocada da pandemia, de desvios de verbas e de excessos de gastos. Tudo isto limita as perspectivas do país, que tem um grande potencial e poderia estar numa situação bastante positiva.”, completou Paulo Rabello.
Questionado por Denise Campos de Toledo a respeito do que seria possível fazer para promover o aumento do poder de compra da população, o economista afirmou que o mais importante é o governo não prejudicar a recuperação da economia com a sua ineficiência.
Na sua visão, a economia brasileira está tendo um comportamento bastante heterogêneo e está sendo impulsionada pelo bom desempenho dos mercados internacionais. Alguns segmentos da indústria e do comércio estão indo bem e a agricultura sequer enfrentou crise. Por isto, em termos regionais, verificamos que o Centro-Oeste e algumas partes do Sul e do Sudeste estão se recuperando mais rápido. A mesma disparidade é verificada entre os desempregados e aqueles que conseguiram manter os seus rendimentos.
Mas, no segundo semestre e no próximo ano, a recuperação do mercado de trabalho pode ser ameaçada pela crise energética causada pelas estiagens. Como o governo se nega a admitir a crise e a enfrentá-la com o racionamento de energia, “o avião pode cair em pleno vôo”.
Inflação e impostos
O cenário de inflação de custos decorrente da elevação dos preços da energia e dos alimentos vai ser muito penoso para a população. Mas, o Banco Central não pode fazer uma retração monetária por conta desta inflação corretiva, sob pena de arrefecer a economia. Deve aumentar a taxa de juros lentamente, “atrás da curva de inflação”.
Existem medidas que podem ser tomadas para atenuar a perda de renda real dos mais pobres. A correção da tabela do Imposto de Renda, de acordo com a inflação passada iria isentar os assalariados com rendimento inferior a R$ 5.000. Outra medida é o atendimento dos mais de dois milhões de pessoas que aguardam a concessão do auxílio-doença pelo INSS. “E de onde viriam os recursos para implementar estas medidas? Da redução de gastos do governo, que não foi realizada em nenhum momento da pandemia.”, completou Rabello de Castro.
2022
Sobre o cenário político e eleitoral em 2022, Paulo Rabello concordou com Samuel Pessôa quanto ao papel forte do Presidente da República no sistema político brasileiro, que constitui um representante dos interesses agregados ou difusos e um árbitro das disputas e manifestações de interesses específicos no Legislativo. Por esta razão, afirma que o Presidente deve ter ideias claras e projetos prontos ao assumir ao poder. Não deve assumir o cargo, para depois estudar o que fazer, como ocorre no governo atual. Um segundo ponto de concordância é que o governo atual não deve fazer mais nada, pois o que faz tende mais a prejudicar, do que ajudar.
“Temos que preparar as discussões para os candidatos e candidatas das próximas eleições. A elite pensante deve fornecer ideias e organizar um plano de desenvolvimento. E as federações e associações empresariais devem se manifestar e participar deste plano, de forma que o setor produtivo tome conta das decisões econômicas, hoje completamente manipuladas por grupos de interesse”, destacou o fundador do Atlântico.
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