A pandemia de Covid-19 e a invasão da Ucrânia evidenciaram a necessidade de reduzir os riscos de interrupção nas cadeias globais de valor. Há uma tendência de desconcentrar as operações internacionais, para reduzir a vulnerabilidade a eventos extraordinários, aumentando o número de países ou regiões de operação. Esta reestruturação pode gerar oportunidades para o Brasil se inserir em novas cadeias produtivas.
Em um seminário do TCU (Tribunal de Contas da União), em 23 de março, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, explicou que o redesenho das cadeias globais é consequência da polarização que surgirá no cenário pós-guerra. Em sua opinião, “É uma oportunidade secular para o Brasil, se estiver no lugar certo, com as políticas certas, de entrar nessas cadeias globais de valor”.
O que são as cadeias globais de valor?
Cadeia global de valor (CGV) é um termo para a fragmentação das diferentes etapas do ciclo produtivo de bens e serviços, em diferentes partes do mundo. Os avanços em áreas como a gestão das cadeias de suprimento, transporte, tecnologias, liberalização do comércio e dos investimentos e a redução de custos de transação, tornaram possível para muitas empresas a criação de cadeias produtivas internacionais, como estratégia de redução de custos, resultando em bens finais produzidos com insumos de diversos países.
A crise provocada pela pandemia de Covid-19 mostrou a fragilidade das CGVs do modo como foram estruturadas e provocou uma reavaliação de empresas e governos, da dinâmica do comércio exterior. Um exemplo contundente é o setor de semicondutores, cuja escassez paralisou atividades do setor automobilístico.
A invasão da Ucrânia intensificou este movimento, acrescentando a questão geopolítica e aumentando os riscos.
Inserção do Brasil nas CGVs
O Brasil ficou à margem do processo de formação das CGVs, por isso compõe a economia global como exportador de commodities primárias ou produtos baseados em recursos naturais. Com isto, perde uma importante forma de integração ao comércio global, que poderia gerar benefícios econômicos e sociais.
O Custo Brasil é uma das principais explicações para o nosso isolamento. O sistema tributário complexo e a infraestrutura de logística precária, por exemplo, multiplicam os custos das empresas.
Estão presentes no país muitas multinacionais recebendo grandes investimentos externos. São empresas dependentes de importações de alta intensidade tecnológica, com produção voltada principalmente para o mercado interno. Além disto, no caso destas filiais, a inovação continua enraizada nas suas sedes, em países desenvolvidos. A situação perpetua a incapacidade de exportar bens de maior valor agregado, implicando na perda de ganhos de escala e de ampliação dos investimentos produtivos.
Soluções e Desafios
A integração do Brasil às cadeias globais exige esforços em várias frentes. No setor doméstico, as empresas precisam aprimorar a gestão e o planejamento, aumentando a produtividade. O governo também deve impulsionar a inovação, com programas que apoiem a P&D. Já o setor externo deve estabelecer acordos comerciais, visando facilitar a entrada do país nas CGVs.
Para a produção brasileira ser mais competitiva, o Custo Brasil precisa ser e os planos de governo dos candidatos à Presidência em 2022 devem explicitar a estratégia para alcançar este objetivo. É fundamental a realização de uma Reforma Tributária ampla, que promova simplificação e desoneração, como defende o Atlântico. Sem encarar o desafio, perderemos o bonde da história mais uma vez.
Receba a NEWSLETTER do ATLÂNTICO