As dificuldades de importação dos fertilizantes, provocada pela invasão da Ucrânia, podem colocar em risco o desempenho do agronegócio e ainda impactar a inflação. Atualmente, as importações atendem mais de 80% da demanda de fertilizantes, sendo que 23% das importações são provenientes da Rússia. Se a Rússia interromper ou reduzir a oferta de fertilizantes, aumentará a concorrência internacional na compra destes produtos, causando aumento dos preços e desabastecimento, o que coloca a próxima safra em risco.
O Brasil é o quarto maior consumidor de fertilizantes no mundo, ficando atrás da China, Índia e Estados Unidos. Entre os grandes produtores agrícolas, é o único que depende de fertilizantes importados.
A fórmula da alta produtividade
Os fertilizantes foram fundamentais para a expansão da fronteira agrícola e o aumento da produção, que triplicou em 30 anos. O solo brasileiro é pobre em nutrientes e ácido, especialmente no Cerrado, como explica o pesquisador José Carlos Polidoro, da Embrapa Solos. As vantagens do produtor nacional estão por conta do clima, das chuvas e da drenagem do solo.
Os principais fertilizantes usados na agricultura são do tipo NPK (N, de nitrogenados, P, dos fosfatados e L, a base de potássio). A demanda brasileira por estes insumos aumentou mais rápido do que no resto do mundo, mas a produção nacional não acompanhou a expansão e o país passou de exportador a importador a partir de 1992.
O país possui grandes reservas das matérias-primas de gás natural, rochas fosfáticas e potássicas. Entretanto, a localização ou infraestrutura de transportes deficiente tornam os custos de extração altos e geram muito desperdício – 40% da produção.
São necessários investimentos muito altos para extrair a matéria-prima, fabricar e transportar os fertilizantes. Existe ainda a questão ambiental, pois a mineração pode afetar os biomas, erodindo o solo e contaminando rios e lençóis freáticos. A exploração de certas jazidas demanda extensos estudos do impacto no meio-ambiente.
Fertilizantes orgânicos
Uma alternativa possível é a utilização de fertilizantes orgânicos. Estes são produzidos a partir de subprodutos das atividades agrícolas, pecuária, agroindustrial e de saneamento urbano, ou seja, resíduos que normalmente são descartados.
O adubo orgânico não substitui o uso do fertilizante químico, mas pode reduzir em até 50% sua aplicação e ainda melhora a produtividade da lavoura. O insumo natural é melhor absorvido pela planta, evitando que esse mineral se perca no solo e acabe contaminando os mananciais.
Os produtores de fertilizantes orgânicos são geralmente empresas pequenas e médias, que se destacam por investir em pesquisa e inovação. Com isto, produzem fórmulas adaptadas às condições brasileiras, geram aumento de produtividade e descobrem novas fontes de minerais e materiais orgânicos.
Falta de planejamento
Nas diversas crises pelas quais o país passou nas últimas décadas, a agricultura foi o esteio do PIB, mantendo a sua produção ou até crescendo, enquanto os demais setores sofriam contração. Entretanto, não houve planejamento e não foram realizados os investimentos necessários para expandir a produção local de fertilizantes, alimentando a dependência externa do setor.
Apenas diante da incerteza no fornecimento de fertilizantes pela Rússia, ganhou força um projeto do governo para ampliação da produção nacional, chamado de Plano Nacional de Fertilizantes. O objetivo é coordenar ações públicas e incentivar ações privadas, estabelecendo metas para a redução da dependência dos insumos importados. A previsão é que o projeto seja apresentado até o final de março.
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