O desemprego caiu para 9,1% no trimestre encerrado em julho de 2022 (PNAD Contínua/IBGE), sendo o menor valor registrado desde o final de 2015. Apesar da redução, a taxa segue preocupante e corresponde a 9,87 milhões de pessoas desocupadas.
A melhora nos indicadores de emprego tem encontrado um obstáculo preocupante: a falta de mão de obra qualificada. A carência de profissionais com conhecimento técnico específico preocupa o empresariado e pode atrasar a recuperação da economia.
Um levantamento da consultoria internacional ManpowerGroup aponta que este desafio é sentido em todo o mundo, porém, com mais intensidade no Brasil. A oferta de profissionais qualificados não acompanha a demanda.
Uma análise do mercado de trabalho feita pela consultoria IDados dá uma pista sobre este comportamento. O recorte por faixa de renda na taxa de desemprego indica que:
- Na faixa dos que recebem até meio salário-mínimo, o desemprego chega a 21%;
- Na faixa dos que recebem entre meio e um salário-mínimo, a taxa cai para 6%;
- À medida que a faixa de renda aumenta, a taxa segue caindo, até atingir 0% na faixa de renda dos que recebem mais de 20 salários-mínimos.
Embora existam vagas ociosas, a dificuldade de inserir trabalhadores sem formação especializada no mercado contribui para mantermos um índice elevado de desemprego.
Fomentar o aperfeiçoamento profissional
A indústria tem grande demanda por trabalhadores qualificados, em função do uso de novas tecnologias e das mudanças na cadeia produtiva. Esta evolução exige melhor formação e capacidade na execução das atividades, mas não só isto. Segundo o ManpowerGroup, também são necessárias as chamadas soft skills, que são os comportamentos e habilidades humanas como a capacidade de relacionamento e trabalho integrado. A saída para as empresas é investir no preparo dos profissionais e no desenvolvimento de talentos.
De fato, esta será a solução adotada pela indústria, como revela o Mapa do Trabalho Industrial 2022-2025. O setor precisará qualificar 9,6 milhões de pessoas em quatro anos para atender às suas necessidades, sendo 2 milhões em formação inicial – para repor os inativos e preencher novas vagas – e 7,6 milhões em formação continuada, promovendo a atualização dos trabalhadores. A indústria também deverá criar 500 mil vagas nos próximos quatro anos, apesar do cenário de baixo crescimento do PIB e reformas estruturais paradas.
Educação ineficiente
A dificuldade em encontrar mão de obra qualificada decorre da falta de escolaridade e, também, da má qualidade da educação básica no país. Os últimos resultados do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa 2018) identificou baixa proficiência em Leitura – 43% dos estudantes brasileiros estão abaixo do mínimo esperado. As pontuações em Matemática e Ciências também foram ruins e muito abaixo da média de outros países, colocando o Brasil entre os 20 piores no ranking.
Outro problema é a formação do Ensino Médio, considerada bastante generalista. Uma parcela pequena dos alunos está matriculada no ensino profissionalizante: 9,7% (segundo dados da CNI), ante 40% em países como Alemanha e França e 70%, na Áustria e Finlândia.
Na opinião de João Carlos Marchesan, presidente do Conselho de Administração da ABIMAQ, a educação básica deve dar ênfase nas áreas de STEAM (acrônimo em inglês para as disciplinas de Ciência, Tecnologia, Engenharia, Artes e matemática) e fomentar a interdisciplinaridade, a resolução de problemas e o desenvolvimento de habilidades para a tomada de decisões. Para ele, “a questão é investir em requalificação profissional, no nosso caso para atender a necessidade da indústria 4.0, que já é uma realidade no setor de máquinas e equipamentos, o que requer políticas públicas adequadas.”
Desenvolvimento interno
A falta de mão de obra qualificada pode prejudicar a retomada do crescimento da economia, dificultar a inovação dentro das empresas e impactar negativamente a competitividade da indústria, que já não é alta.
Apesar de outros problemas afetarem a indústria, como o sistema tributário complexo, a ausência de mão de obra qualificada é crítica, por levar muito tempo para ser resolvida. As melhorias no sistema educacional só terão impacto na oferta de profissionais no futuro. De imediato, as empresas precisarão arcar com os altos custos de treinamento do trabalhador.