Mato Grosso, EUA e China

Com o resultado das eleições presidenciais americanas, Mato Grosso, um dos principais estados produtores e exportadores de commodities agrícolas do Brasil, encontra-se em uma posição estratégica em meio à iminente disputa comercial entre Estados Unidos e China. Com a chegada de Donald Trump ao poder em janeiro de 2025 e sua política protecionista, há uma expectativa de que a China busque alternativas aos produtos agrícolas americanos, abrindo espaço para o aumento das exportações brasileiras.

Mato Grosso é um gigante na produção de soja, milho e carne bovina, produtos que estão no centro das tensões comerciais. Historicamente, a China tem aumentado suas compras de soja brasileira em resposta às tarifas impostas aos produtos americanos. A possibilidade de uma nova rodada de tarifas sob a administração de Trump pode intensificar essa tendência, beneficiando diretamente os produtores de Mato Grosso.

No caso da carne bovina, em que o Brasil já é um líder global, também pode ver um aumento na demanda chinesa. Em um evidente cenário de animosidade comercial, a China pode aumentar suas importações de carne e milho do Brasil, setores em que Mato Grosso tem forte presença.

O cenário político atual, com Lula na presidência do Brasil, traz nuances adicionais a essa dinâmica. Lula, conhecido por sua postura diplomática e alinhamento com o Partido Democrata nos EUA, pode facilitar o fortalecimento das relações comerciais com a China, especialmente se as políticas de Trump se mostrarem hostis aos interesses chineses. Este alinhamento pode resultar em um assédio chinês para aumentar parcerias e investimentos em setores estratégicos, como infraestrutura e tecnologia agrícola, em Mato Grosso.

No contexto dos BRICS, bloco composto por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, também teremos alguma tensão externa. A Rússia, aliada histórica da China, terá mais quatro anos de aproximação com os Estados Unidos pela proximidade do Presidente Putin com seu amigo americano. O Brasil, se souber se posicionar, pode ser uma “pequena Rússia” no bloco, se beneficiando de eventuais parcerias com EUA e China em temas distintos.

No entanto, a crescente dependência do mercado chinês traz riscos significativos a médio e longo prazo. A concentração das exportações em um único mercado pode tornar Mato Grosso vulnerável a flutuações econômicas e políticas na China. Além disso, a pressão para atender à demanda chinesa pode levar a desafios ambientais, como o aumento do desmatamento, e a questões sociais, como a pressão sobre pequenos produtores. Fatores que podem cada vez mais afastar Mato Grosso e o Brasil dos blocos americano e europeu.

A disputa comercial entre EUA e China apresenta uma oportunidade significativa para Mato Grosso, mas também ressalta a importância de uma estratégia de exportação diversificada e sustentável. O estado deve aproveitar as oportunidades de curto prazo enquanto constrói resiliência para enfrentar os desafios de uma dependência excessiva do mercado chinês. O equilíbrio entre crescimento econômico e sustentabilidade será a chave para o sucesso de Mato Grosso no cenário global.

Gustavo de Oliveira Gustavo de Oliveira é empresário em Cuiabá-MT (gustavo@britaguia.com.br  www.linkedin.com/in/gustavopcoliveira)

 

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