A criação de uma moeda comum para a América do Sul está sendo discutida entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Alberto Fernández, da Argentina. A nova moeda seria utilizada nas transações comerciais e financeiras entre os países, reduzindo os custos operacionais e a dependência do dólar. Também promoveria maior integração regional.
A moeda comum não substituiria as moedas nacionais, como explicou o ministro Fernando Haddad, em entrevista coletiva na capital argentina: “Não há projeto de adotar moeda única entre Brasil e Argentina”, enfatizou. Seria uma espécie de evolução do atual Sistema de Pagamentos em Moeda Local (SML), operado pelo Banco Central do Brasil, com um câmbio flutuante entre as moedas dos países – que poderiam adotá-la ou não domesticamente.
SUR, a nova moeda
Lula assinou nesta segunda-feira (23/01) um documento formalizando o entendimento com o presidente argentino e estabelecendo a criação de um grupo de trabalho para viabilizar a implementação da nova moeda, que pode vir a ser chamada de “SUR”.
Na opinião de Paulo Rabello de Castro, economista e fundador do ATLÂNTICO, “Estamos diante de uma ideia boa, mas 100% requentada. Desde os anos 1990 temos um instrumento para pagamento de transações entre países latino-americanos, chamado CCR (Convênio de Créditos Recíprocos)”.
“Como diz o nome, o que é exportado do Brasil para um país latino da região vira débito desse país e crédito para o Brasil. E vice-versa. Os bancos centrais vão pagando (ou recebendo) dos exportadores (ou importadores) em moedas locais, assim ‘economizando’ reservas em dólares, que são escassas em alguns bancos centrais, como o da Argentina hoje”, descreve Paulo Rabello, que já dirigiu o BNDES e o IBGE. “O SUR contém zero de novidade como “moeda” de liquidação dessas transações. É um caderno de armazém que viabiliza comércio “fiado” para quem for um devedor líquido. Mas, no final de certo período a conta tem que ser liquidada e esse seria o equivalente a um crédito para quem compra mais do que vende. Fiado pra Argentina? Depende das garantias que oferecer. Precisa ser algo alcançável por um tribunal binacional, que não existe hoje”.
“Em conclusão: nada substitui a confiança e ficha de bom devedor, que atualmente a Argentina não tem. Então, que esperteza é essa da dupla Lula-Haddad, que descobre grandes ‘oportunidades’ onde outros veem riscos de país?”, completou Paulo Rabello.
Unidade de conta
O projeto de criação da unidade de conta sul-americana – como o governo prefere chamar – prevê estudos para o lançamento de linhas de crédito de bancos privados e públicos, para estimular a importação de produtos brasileiros pelos argentinos. As exportações para a Argentina tiveram forte queda e a avaliação do governo é de que a China ocupou o espaço dos brasileiros.
Durante o governo Bolsonaro, Paulo Guedes chegou a defender a criação de uma moeda única. Ela seria lançada inicialmente para transações entre Brasil e Argentina e, posteriormente, seria estendida a outros países da região.