A equipe de transição do presidente eleito considera importante ampliar a participação do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) na promoção de novos investimentos. Durante os governos Temer e Bolsonaro, a atuação do banco foi orientada à estruturação de projetos de investimento, tendo realizado grandes desembolsos para o Tesouro Nacional.
Questionado sobre as intenções da equipe de Luiz Inácio Lula da Silva, o economista e fundador do ATLÂNTICO, Paulo Rabello de Castro, ressaltou que a estruturação de projetos é um padrão de trabalho do BNDES há quase 70 anos. “O BNDES sempre estruturou projetos, abriu novas perspectivas e ajudou a criar oportunidades. Ele atua como uma consultoria técnica, aperfeiçoando os projetos recebidos”, afirmou ao portal Poder 360.
Na avaliação de Paulo Rabello, ex-presidente do BNDES e do IBGE, é falsa a ideia de que o BNDES pode se limitar à estruturação de projetos em áreas prioritárias, ser reduzido a um terço do tamanho original e, ainda assim, ter impacto na sociedade. “O banco ficou anêmico, esquálido, por um motivo muito simples: deram uma “rasteira” monumental nas suas finanças, em relação aos recursos que alavancaram o processo anterior de investimento”.
BNDES: Um banco rentável
Apesar das fake news, como aquela na qual os recursos do BNDES estariam alocados majoritariamente em empresas campeãs, Paulo Rabello descreve uma realidade bastante diferente: “Ao chegar à presidência do BNDES, fiz um levantamento profundo e objetivo das aplicações dos cerca de R$ 440 bilhões captados junto ao Tesouro Nacional. Eles estavam alocados em quase 1000 projetos, além dos que já estavam na pipeline. A efetividade foi extraordinariamente positiva, como se esperaria de um banco afeito a estruturar projetos. Os investimentos estavam dando certo, com muito poucas exceções, e geravam rentabilidade para o banco.”
Os recursos captados junto ao Tesouro Nacional foram 100% empregados no longo prazo, em até trinta anos. Entretanto, a União vem exigindo a devolução antecipada dos recursos desde 2015, destruindo o fluxo de caixa. Como o BNDES era muito rentável, conseguiu devolver os recursos, mas perdeu a sua capacidade de alavancar novos financiamentos, explicou Paulo Rabello.
Sangria de recursos
A antecessora de Paulo Rabello na presidência do BNDES entre 2016 e 2017, Maria Silvia Bastos Marques, já havia transferido aproximadamente R$ 113,22 bilhões ao Tesouro. Em sua gestão, Paulo Rabello transferiu mais R$ 50 bilhões a contragosto, na expectativa de que as devoluções antecipadas terminassem por aí. Mas, não foi o que aconteceu. Os saques antecipados se repetiram e, agora, a BNDESPar está fazendo uma descapitalização de R$ 40 bilhões, preparando-se para mais uma transferência ao Tesouro.
Entre 2008 e 2014, o BNDES captou R$ 440,8 bilhões junto ao Tesouro Nacional (valores correntes), como parte das políticas anticíclicas adotadas contra a crise financeira internacional.
Por outro lado, entre 2015 e outubro de 2022, foram restituídos R$ 499,3 bilhões em liquidações antecipadas ao Tesouro Nacional. O BNDES ainda se comprometeu a devolver outros R$ 69 bilhões, divididos em uma parcela de R$ 45 bilhões, quitada no último dia 11 de novembro, e outra de R$ 24 bilhões, que deve ser restituída até novembro de 2023.
“Quando falamos sobre o papel do BNDES na promoção de investimentos, devemos perguntar: com quais recursos? O BNDES continua estruturado em termos de recursos humanos, mas está descapitalizado. Por isso, é preciso pensar em maneiras de empregar todo o talento ali existente a favor do crescimento econômico. Esta não será uma tarefa fácil”, finalizou o economista.