Falta de planejamento agrava crise energética

A crise energética é também uma crise hídrica. De acordo com o Banco Mundial, 12% das reservas de água doce do planeta estão no Brasil e geram 63,2% da energia que consumimos. Os números impressionam, mas a realidade é que hoje falta água para girar as turbinas das hidrelétricas.

O sistema construído com base na abundância deste recurso natural, agora está comprometido pela sua escassez e a culpa não é apenas de um período de seca.

A falta de água decorre tanto de fatores como o aquecimento global, que altera a temperatura dos oceanos e o regime dos ventos, como de ações diretas dos brasileiros, através do desmatamento de florestas, da destruição das matas ciliares, do uso inadequado da água na agricultura e, até mesmo, das barragens e usinas hidrelétricas.

Um relatório do MapBiomas sobre as mudanças climáticas indica que o país está “secando” e perdeu em média 15% dos seus recursos hídricos. Certas regiões perderam muito mais que esta média, como o Pantanal.

A crise “gêmea”
Desde 2019, as chuvas estão abaixo da média, mas o governo federal não sabia ou não deu a atenção devida. A última estação chuvosa, de novembro de 2020 a abril de 2021, apresentou os piores números desde 1930, quando o volume de chuvas começou a ser medido pelo Departamento Nacional de Águas e Energia Elétrica (DNAEE).

Na incapacidade de as hidrelétricas suprirem a demanda de energia elétrica, as caras e poluentes usinas termelétricas, movidas a combustível fóssil (gás ou carvão), entraram em ação. O resultado foi a elevação no preço da energia elétrica.

Enquanto isso, pelo lado do mercado consumidor, está ocorrendo o aumento da demanda de energia, devido ao home office e home schooling. O câmbio favorável às exportações está estimulando a produção de setores intensivos em energia, que estão aumentando a demanda.

O ministro da Minas e Energia, Bento Albuquerque, afirmou em pronunciamento em 31 de agosto que a condição hidroenergética do país piorou, pois o nível dos reservatórios das regiões Sudeste e Centro-Oeste sofreram uma redução maior do que a prevista. Não é verdade, pois esta realidade já se delineava no ano passado, como publicado pelo ATLÂNTICO (https://atlantico.org.br/falta-de-planejamento-energetico-coloca-a-recuperacao-da-economia-em-risco/) .

A situação dos reservatórios motivou a criação de uma nova bandeira tarifa – a bandeira de escassez hídrica – com valores ainda mais altos para a energia elétrica: R$ 14,20 por 100 kWh, enquanto a bandeira vermelha dois estava em R$ 9,49 por 100 kWh. A nova bandeira será válida de setembro de 2021 a abril de 2022.

O aumento das tarifas de energia elétrica contribuirá para o aumento da inflação e do custo de vida, piorando a situação das famílias mais pobres, que já sofrem com os efeitos da pandemia.

Rios voadores
O desmatamento também é uma das causas da falta de chuvas. A destruição da floresta amazônica afeta a formação dos rios voadores – massas de umidade formadas pela floresta, que são responsáveis pelas chuvas intensas observadas nas regiões Centro-Oeste, Sudeste e Sul, nos meses de primavera e verão.

Apesar de uma das causas da queima das florestas ser a criação de novas pastagens para o gado, o agronegócio é diretamente afetado pela falta de chuvas. A produção de alimentos foi impactada e as safras de soja e milho serão reduzidas.

Insegurança energética
Precisamos encarar a questão hídrica e do meio-ambiente com seriedade e urgência, transformando a matriz energética. Apenas gestores com a cabeça e a capacidade de estadistas poderão planejar a transição para uma matriz baseada em energias renováveis.

Ignorar a urgência desta mudança aflige a população, trava o crescimento do país e afugenta os investidores.

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