Publicado originalmente no jornal A Gazeta, em 24/02/2025.
A transição energética global é urgente. O mundo precisa intensificar o uso de energias renováveis, e países em desenvolvimento têm a vantagem de expandir suas matrizes limpas sem o alto custo de substituir estruturas poluentes.
O Brasil tem protagonismo nesse cenário. Além de uma matriz elétrica focada em hidrelétricas, expandiu significativamente suas usinas solares e eólicas e possui o maior programa de biocombustíveis do mundo, com destaque para etanol e biodiesel. O país poderia liderar uma aliança internacional pela energia limpa.
Entretanto, algumas decisões recentes comprometem essa liderança. A adesão ao fórum da OPEP+ e a manutenção da mistura de biodiesel no diesel em 14%, contrariando a previsão de aumento para 15% conforme a Lei do Combustível do Futuro, exemplificam essa contradição.
A participação na OPEP+, aprovada pelo Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), tem o objetivo de ampliar o diálogo sobre o mercado de petróleo e promover os biocombustíveis. O governo argumenta que isso fortalece o Brasil no cenário energético global. No entanto, especialistas alertam que o país pode comprometer seus compromissos climáticos e sua posição na transição para uma economia sustentável. Em um fórum dominado por exportadores de petróleo, a prioridade será maximizar lucros com combustíveis fósseis.
Além disso, a decisão de manter a mistura de biodiesel em 14%, adiando o aumento para 15% previsto para março de 2025, foi justificada como forma de conter a inflação e o preço dos alimentos. Essa escolha contraria a Lei do Combustível do Futuro, sancionada em outubro de 2024, que determinou um aumento progressivo da mistura de biodiesel até atingir 20% em 2030. A mudança repentina da política em menos de seis meses demonstra a fragilidade dos compromissos ambientais.
Outros sinais preocupam: a intenção de explorar petróleo na margem equatorial, próxima à Amazônia, reforça a percepção de que o Brasil prioriza combustíveis fósseis em detrimento das energias renováveis. Isso é especialmente sensível considerando que o país sediará a COP30 em Belém. A conferência deveria ser uma oportunidade para o Brasil assumir protagonismo na agenda climática global, mas decisões recentes colocam essa liderança em risco.
Para que o Brasil se estabeleça como uma liderança mundial em sustentabilidade e combate às mudanças climáticas, é imperativo alinhar suas políticas internas com os compromissos internacionais assumidos. E como isso poderia ser feito? Com ações concretas que promovam a transição para uma economia de baixo carbono, incentivando investimentos em energias renováveis e cumprindo as metas estabelecidas para a redução de emissões.
Não é uma tarefa simples, eu sei, porque requer abandonar um modelo energético para abraçar outro, e mudanças sempre causam resistência. Mas, se não entrarmos em sintonia com a agenda atual da energia renovável, o país corre o risco de comprometer sua credibilidade e perder oportunidades de protagonismo no cenário ambiental global.
![]() |
Gustavo de Oliveira é empresário em Cuiabá-MT (gustavo@britaguia.com.br www.linkedin.com/in/gustavopcoliveira) |
O artigo acima não representa, necessariamente, a opinião do Atlântico.